Mozart em concertos extrovertidos

Vários dos mais belos concertos para instrumento de sopro solista e orquestra receberam a mesma e genial assinatura, a do austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756 – 1791). Eles foram reunidos em um álbum de 3 CDs da etiqueta Deutsche Grammophon, de edição nacional. A orquestra é a americana Orpheus Chamber Orchestra, que conta com solistas escolhidos dentre os melhores em atividade nas décadas de 1980 e 1990. (As gravações são todas digitais e o som é satisfatório).
Mozart escreveu muitíssimo mais concertos para os dois instrumentos que dominava como verdadeiro virtuose – o piano (mais de duas dúzias deles) e o violino (cinco, todos compostos no mesmo ano, entre abril e dezembro de 1775). Para instrumentos de sopro, ele em geral compunha para fazer frente a encomendas ou, então, para agradar algum amigo que gostasse de certo instrumento. É especialmente fascinante dar-se conta de que, mesmo odiando determinado instrumento (Mozart abominava flauta), ele era capaz de conceber para ele obra de enredante beleza. Disso se conclui que sua genialidade composicional era bem maior do que suas eventuais antipatias.
O primeiro sopro a receber a atenção de Amadeus foi o fagote. Sua partitura em si bemol maior destinada a ele, de 1774, é a obra feliz de um jovem de 18 anos, dono de inacreditável intuição, a qual se permitia conceber obra difícil para um instrumento que ele, pessoalmente não dominava. Do ponto de vista cronológico, o próximo concerto para sopro de Mozart é, na verdade, uma obra de autoria duvidosa. Trata-se da ‘Sinfonia Concertante para oboé, clarinete, fagote e trompa’, dada com escrita em paris, em 1778. (É difícil acreditar que ela não seja de Wolfgang, tal a sua beleza).
Do mesmo ano, e também pertencente a temporada parisiense do autor, é o ‘Concerto para flauta e harpa’, delicioso de princípio ao fim. Logo depois, em Mannheim, Mozart colocaria no papel os dois concertos para flauta (sendo o segundo deles uma transcrição de uma obra antiga pensada para oboé). E são da década de 1780 os quatro concertos destinado à trompa – breves, desanuviados e brilhantes.
Foi poucos meses antes de morrer, em 1791, que Mozart escreveu esse que é um dos mais belos concertos para clarinete de toda a História, o ‘Concerto em lá maior, K. 622’. Seja tocado com um instrumento antigo (mais grave que o atual ou moderno, a obra soa sempre como algo extraordinário. Ao ouvi-la, é possível concordar com um grande admirador de Mozart, Beethoven, para o qual “a música é uma revelação mais alta que a filosofia’.


  • Publicação: Jornal da Tarde (São Paulo / SP – Brasil)
  • Publicação: Jornal da Tarde (São Paulo / SP – Brasil)
  • Data: Sexta-feira, 9 de maio de 2002
  • Título: Mozart em concertos extrovertidos

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